6 de outubro de 2007

Presidente pede novo olhar sobre a escola


Presidente pede novo olhar sobre a escola. presidente da República defendeu, ontem, durante as comemorações da implantação da República, "um novo olhar sobre a escola". Uma escola que Cavaco Silva quer ver construída "à luz da ideia de inovação social". Plural, neutra, inclusiva, participada pelos pais e profundamente inserida na sua comunidade. Um envolvimento que, segundo o presidente, pressupõe, desde logo que "a figura do professor seja prestigiada e acarinhada" e as autarquias locais "assumam maiores responsabilidades"."A gestão das escolas deve ser gradualmente entregue às suas comunidades de pertença para que estas possam rever-se nos seus resultados", defendeu o chefe de Estado neste segundo ano a que preside às comemorações da implantação da República e em que voltou a exortar um ideário republicano. E se, no ano passado, elegeu o combate à corrupção, desta vez centrou-se no sistema de ensino, aquele "que é a principal causa do nosso atraso estrutural" e cujos problemas, apesar dos 30 anos decorridos sobre o 25 de Abril, "persistem, desde logo em comparação com os outros países europeus"."Há que promover um verdadeiro sentimento de comunidade em relação à escola e ao sucesso educativo", disse, defendendo que "tal envolvimento" pressupõe "que a figura do professor seja prestigiada e acarinhada pela comunidade", o que implica "a estabilidade do corpo docente". Para o presidente da República, é fundamental que a comunidade apoie o professor no combate ao insucesso escolar, objectivo que "não pode ser empreendido apenas pelos docentes".Aos pais que encaram as escolas como "fábricas de ensino", Cavaco Silva lembrou que "não basta adquirir livros e manuais, assistir de quando em quando a reuniões ou transportar diariamente os filhos à escola". É preciso incutir-lhes "uma cultura de autoexigência" e fazer com que se envolvam "de forma mais activa e participante na qualidade do ensino, na funcionalidade e na conservação das instalações escolares".Para combater o insucesso, Cavaco vê "como muito válida" a ideia de "criação de mediadores entre a escola e a família", sobretudo, nas zonas mais carenciadas. Para além disso, o presidente sugere que "autarcas, empresários, artistas, desportistas ou responsáveis locais" sejam convidados a ir à escola, relatar as suas experiências e, assim, motivar os alunos para "o espírito criativo e empreendedor , a vontade de vencer e o apego ao trabalho".A Educação é um tema, aliás, a que o presidente já se referira na Mensagem de Ano Novo, altura em que afirmou ser necessário ver "sinais positivos", no ano de 2007, quanto à "qualidade no ensino, o estímulo à excelência e o combate sem tréguas ao insucesso e abandono escolar".Antes do discurso do chefe de Estado, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa traçou um quadro negro do estado das escolas do primeiro ciclo da capital , dizendo que 44 dos 90 estabelecimentos se encontram "em muito mau estado de conservação" e "com necessidade de intervenção prioritária e imediata". No próximo ano, segundo anunciou, vai ser lançado "um programa especial de modernização e qualificação" .No final da cerimónia, o primeiro-ministro, que quebrou o protocolo e chegou depois do Presidente da República, quando já se entoava o hino nacional, afirmou que ouviu o discurso de Cavaco Silva "como um incentivo àquilo que o Governo tem vindo a fazer".Exactamente o contrário da leitura feita pelos representantes dos partidos da Oposição que se fizeram representar e viram no ênfase dado à necessidade de prestigiar os professores um recado ao Governo. O PSD, que não compareceu na cerimónia "porque o novo presidente do partido não recepcionou nenhum convite para estar presente", também detectou vários recados. Para além da defesa dos professores, o deputado Luís Montenegro destaca a transferência de responsabilidades para as autarquias e a referência ao combate à corrupção (ver texto ao lado). Mais "esforço" contra corrupçãoNuma breve referência, Cavaco Silva mostrou o seu descontentamento com a insuficiência de instrumentos, entretanto produzidos, para combater a corrupção, tema que elegeu para o seu discurso do ano passado. Apesar de ter "registado" "as múltiplas iniciativas legislativas visando aumentar a eficácia da luta contra a corrupção", apresentadas na Assembleia da República, no último ano, Cavaco apelou a uma maior concretização."Apelo a que os senhores deputados aprofundem o esforço já empreendido para concretizar, no plano legislativo, o ideal republicano de uma maior transparência da vida pública".O combate à corrupção, de facto, suscitou uma série de projectos por parte de todos os grupos parlamentares. O crime de enriquecimento ilícito foi liminarmente rejeitado pelo PS. Foi aprovada lei da corrupção desportiva e introduzida, no Código Penal, a responsabilidade criminal das pessoas colectivas. Muitos dos projectos, como a criação de um observatório ou de uma comissão anti-corrupção encontram-se ainda pendentes na Comissão de Assuntos Constitucionais, presidida pelo Partido Socialista.Recorde-se que, anteontem, João Cravinho, autor de uma série de propostas que veio a ser rejeitadas pelo próprio Partido Socialista, afirmou, em entrevista à "Visão", ter sofrido "o maior choque" da vida ao constatar "o mal estar" que as suas propostas criaram no partido.


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